sábado, 10 de maio de 2008

Foi assim que tudo começou...

Olá!!! Meu nome é Sara Cristina, sou professora, com muito orgulho, de uma 4ª serie, turma 40, da EMEF Cidade do Rio Grande.
Venho, de forma informal, relatar o motivo pelo qual a turma sentiu vontade de pesquisar o tema “profissões”.
Foi numa linda tarde de segunda-feira do mês de março onde tudo começou... O sol muito brilhante e quente parecia “agitar” os ânimos das crianças que esperavam ansiosas pelo recreio...
Bateu o sinal. Todos, como de costume, organizaram-se no corredor para, então, sairmos para o pátio. Eles foram, nos seus 15, mas adoráveis minutos, brincarem e eu dirigi-me a sala dos professores para tomar o cafezinho habitual com os colegas.
Ao término do recreio, fui ao encontro das crianças no pátio, estes já na fila. Há neste momento, levei um susto, pois de forma muito inesperada e muito rápida, dois colegas de turma, uma menina e um menino, trocaram dois socos. Rapidamente separei - os dizendo de forma firme que em aula iríamos conversar sobre o acontecido.
Como sempre após o recreio, conversamos sobre os acontecimentos do mesmo, foi tranqüilo acalma-los naquele momento. Se o recreio foi tranqüilo sem brigas continuávamos a aula normalmente, porém se houvesse alguma briga, por menor que fosse, parávamos para conversar..., E, aquela tarde foi um dia de muita conversa...
Ao chegar na sala, eles mesmos já foram organizando a “roda de conversa”.
Organizados, pedi, primeiramente que os dois colegas envolvidos na briga, relatassem o motivo do desentendimento.
A menina queixou-se chorosa, que o colega havia passado o recreio todo, juntamente com outro menino, chamando-a de “micreide”.
Já o menino disse que a colega, sempre implicava com ele, também fora do espaço da escola.
Depois de escutá-los peguei uma cartolina e um canetão azul e colequei no chão da sala pedindo que cada um pensasse e escrevesse o que era preciso para que as pessoas pudessem conviver em harmonia umas com as outras. Um a um foi colocando o que achava. Dentre as palavras, frases que surgiram, cito algumas delas:
Educação * respeito * cuidar de si * coleguismo* não se irritar a toa * saber pedir desculpas, etc...
Feito isto, fiz então a pergunta que tanto me angustiava: “Pessoal, o que quer dizer” micreide “? A turma, para minha surpresa, ficou em completo silencio! Ninguém queria falar. Pensei:” Ou estão com medo ou não sabem...”“.
Resolvi então, perguntar para o colega que havia chamado a menina de “micreide” o significado da palavra. Ele, baixinho, disse: _ “Não sei Sora...”.
Perguntei, já preocupada, para a menina se ela sabia... A menina com vergonha e cabeça baixa disse que não... O silencio seguiu... Até que um colega, num fôlego só disse: _ “Meu pai disse que”micreide” são aquelas prostitutas!”
Confesso que naquela hora pensei: “E agora Sara?” Respirei fundo e disse:
_... “Bom, agora já sabemos o que significa micreide”,
Pedi ao ajudante do dia que fosse até o nosso armário de “relíquias” e pegasse todos os dicionários que ali estavam. Eram 10.
Feito isso, dei um dicionário para cada um dos colegas envolvidos na “briga” e o restante foi dividido em grupos. Sugeri que procurassem o significado da palavra/termo PROSTITUTA. Acharam. Perguntei quem gostaria de ler. O ajudante do dia prontificou-se:
_ “sorinha, eu posso ler...”.
Pedi então que lesse.
_Prostituta: mulher que pratica prostituição
Como também tenho alunos pré - adolescentes já sabia que estes haviam entendido, porém, tenho crianças com 10 anos que não haviam, com certeza, entendido muito bem. Então sugeri que procurassem um outro termo que explicasse melhor o significado da palavra. O mesmo colega, que primeiro explicou o significado da palavra falou, :"_ sora tem sim , ó: "Prostituição! Quer dizer aqui , comércio " e completou : " essas mulheres devem ganhar o dinheiro vendendo o corpo, né??? Diante da informação e pergunta do menino fiz alguns questionamentos para a turma, de forma que eles mesmos se dessem conta que não devemos " nomear" as pessoas quando não sabemos e mesmo sabendo o significado de determinadas palavras.De forma muito simples e temerosa, tentei explicar que muitas mulheres por falta de opção ou outros motivos, utilizavam o corpo de forma de sobrivencia. Que por algumas questões sociais, por não terem um emprego e também por terem que, muitas delas, sustentar a casa e os filhos acabam por seguir este caminho. E que infelizmente a prostituição já estava virando "profissão". Neste momento, apontei a importancia do estudo e também que deveriam valorizar o esforço, empenho que

seus pais, avós, parentes faziam para que eles tivessem a oportunidade de estudar e ter um futuro melhor. Muitos de forma muito consciente relataram que as prostitutas nem sempre queriam fazer “aquelas coisas”, mas precisavam...
Um dos alunos disse conhecer “uma dessas”, mas que era “gente boa” e só queria que os filhos conseguissem estudar...
Aproveitando este depoimento fiz a seguinte pergunta:
_ “Vocês já sabem qual profissão querem seguir? Mal acabei a pergunta e começou um”griteiro” fantástico na turma toda!
TODOS, com muita clareza sabiam o que gostariam de estudar na “faculdade”. Eu, particularmente, fiquei emocionada, pois hoje muitos jovens prestam vestibular sem muita certeza se realmente “aquela profissão” que querem seguir. E o mais surpreendente que nenhum deles disse que queriam seguir tal profissão porque o pai ou a mãe achava bom para eles.Calmamente, pedi que cada um falasse o nome da profissão que gostariam de estudar.
Encaminhei que os dois primeiros colegas a falarem fossem justamente aqueles envolvidos na “briga”. O menino quer ser modelo e a menina advogada. Dentre todas as profissões cito algumas: cantor, brigadiano, jogador, torneiro mecânico, militar, piloto, engenheiro, pediatra, Professor de educação física, professora de português, “doutora de tudo”, veterinária.
Sempre que um falava o nome da profissão, eu fazia questão de instigá-los quanto à responsabilidade, e a importância que cada profissão tinha perante a sociedade.
Após o relato e debate de cada profissão um colega disse: _ “Pó sora, bem que nós podíamos pesquisar sobre cada uma das profissões”!
Eu adorei!!!Pois já havia, durante toda a conversa, pensado em apresentar essa proposta a eles. E quando surgiu deles mesmos minha empolgação ficou ainda maior!
Todo, inclusive eu, estavamos muito empolgados com a idéia, porém era necessário retomar ao ponto inicial da conversa... Perguntei então:
_ “Pessoal... adorei a idéia, mas o que será que está faltando agora, depois de toda a conversa?”.
Todos responderam quase que em coro: “Falta o... e a... pedirem desculpas um ao outro”.
Segui perguntando: “_ E como eles podem fazer isto?”.
“_ E como eles podem fazer isto?”.
“Ah! Apertando as mãos, pedindo desculpas”.
Foi então que os dois colegas de maneira tímida, mas verdadeira, não se abraçaram, nem se se beijaram, mas olharam nos olhos e de forma verdadeira, pediram desculpas um ao outro...
Ufa! Bateu novamente o sinal, agora, para irem para a casa. O sol ainda estava presente, porém não tão quente, estava mais “leve”...
Beijaram–me e ansiosos, curiosos, foram para casa cheios de expectativas...
Eu, com a mente fervilhando pensava: “_ E agora? Por onde eu começo?”.
Fui para casa pensando... Pensando... Dormi pouco naquela noite.
Acordei às 05:30, como de costume, pois moro em Pelotas, tomei meu banho habitual e saí para o trabalho... Ainda pensando...
Chegando na escola a primeira pessoa que encontrei foi a professora Denise que trabalha/participa do projeto Escuna e quando a vi lembrei da frase de um educador: “ Já não estamos sós”.
E foi assim que tudo começou...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Olá pessoal!!!

Agora temos um blog para podermos compartilhar nossas experiências com outras pessoas. Vai ser muito legal!!!